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Desvendando o Documentário de Leni Riefenstahl: A Obra Sobre o Favorito de Hitler

29/08/2024
às
07:08
4 min de leitura
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Desvendando o Documentário de Leni Riefenstahl: A Obra Sobre o Favorito de Hitler
Débora Torres

Leni Riefenstahl, falecida em 2003 aos 101 anos, ainda ressoa na cultura pop como “a diretora favorita de Hitler”. Seus documentários inovadores, como O Triunfo da Vontade, que retrata o comício nazista em Nuremberg em 1934, e Olímpia, sobre as Olimpíadas de Berlim em 1936, continuam a gerar polêmica e fascínio. Riefenstahl é vista por alguns como uma gênio visionário, enquanto outros a consideram uma propagandista nazista. Assim, o debate persiste: é possível separar seu talento artístico de suas convicções políticas?

As Visões Controversas de Riefenstahl

Para entender a complexidade da figura de Riefenstahl, é fundamental discutir suas visões políticas. O novo documentário Riefenstahl, do cineasta alemão Andres Veiel (Caixa Preta BRD), se aprofunda nessa questão. Exibido fora da competição no Festival de Cinema de Veneza, o filme investiga se Riefenstahl estava plenamente consciente das atrocidades cometidas durante o Holocausto e qual a verdadeira extensão de seu envolvimento com o regime nazista.

Veiel teve acesso exclusivo a cerca de 700 caixas de arquivos pessoais de Riefenstahl, incluindo diários, correspondências e gravações de chamadas telefônicas. Seu objetivo é oferecer um retrato psicológico da diretora, revelando a natureza sedutora do fascismo, não só na década de 1930, mas também em suas manifestações atuais.

“O que encontramos em seus arquivos ecoa com o que vemos hoje”, afirma Veiel. “Seja na promoção de uma forma heroica de nacionalismo ou na glorificação da força, temos um protótipo do fascismo que é relevante para os recentes movimentos de direita na Europa e nos Estados Unidos.”

A Verdade Por Trás da Lenda

A questão de Riefenstahl ser uma verdadeira crente no nazismo ou apenas uma oportunista parece estar clara para Veiel. Ele revela: “Ela não era uma artista oportunista; sua adesão à ideologia nazista era profunda, refletida em seu desprezo por aqueles considerados fracos ou indesejáveis.” Durante uma entrevista de 1934, ela admitiu ter se tornado uma “nacional-socialista entusiasmada” após ler Minha Luta de Hitler, o que contradiz sua postura de negação ao longo da vida.

Após a guerra, Riefenstahl continuou a exibir uma postura de desinteresse pelas consequências das suas obras. Em gravações privadas, ela se mostra indiferente às críticas e lamenta apenas a queda da sua estética. “Ela chegou a dizer que levaria uma ou duas gerações para reabilitar o nazismo na Alemanha”, comenta Veiel. “E agora, observamos o ressurgimento da direita.”

Reflexões Sobre o Passado e o Presente

O documentário também mergulha na vida de Riefenstahl após a Segunda Guerra Mundial, quando foi rotulada como simpatizante do nazismo pelos Aliados. Em um talk show alemão na década de 1970, ela foi confrontada sobre sua alegação de ignorância em relação ao Holocausto, mantendo a narrativa de que não tinha conhecimento sobre os campos de concentração até o fim da guerra. Essa cena evidencia como sua persona de “vítima” ainda conquistou simpatias entre o público, algo que chocou sua contemporânea, a apresentadora de TV Sandra Maischberger.

Ao longo das décadas, Riefenstahl foi celebrada por críticos e cineastas, mesmo em meio às controvérsias. A renomada crítica Pauline Kael chegou a dizer que O Triunfo da Vontade e Olímpia eram “os dois maiores filmes já dirigidos por uma mulher”. A importância simbólica de Riefenstahl perdurou, culminando em tentativas de diversos cineastas de homenagear sua trajetória.

Um Legado Conturbado

Apesar de sua imagem moldada por décadas de controvérsia e aclamação, Riefenstahl não hesitou em processar aqueles que desafiavam sua narrativa. O caso judicial contra a documentarista Nina Gladitz, por exemplo, buscava vetar a exibição de Tempo de escuridão e silêncio, que incluía testemunhos de vítimas do regime. Mesmo diante de evidências, Riefenstahl manteve sua retórica de negação. “Claro que ela sabia sobre Auschwitz e que os extras ciganos que escolheu foram mortos”, afirma Veiel. “Sua vida foi marcada por uma mistura estranha de repressão e mentira.”

O documentário Riefenstahl não apenas perfilha a figura de um dos propagandistas mais conhecidos da história, como também oferece uma reflexão poderosa sobre a sedução do fascismo. Veiel conclui: “É uma história sobre como somos facilmente atraídos por narrativas encantadoras. A história dela, por incrível que pareça, é uma narrativa que pode fascinar qualquer cineasta.”

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